Do momento em que nascemos até o fim dos nossos dias, somos histórias. Histórias que contavam-nos quando éramos crianças, ao pé da cama, fábulas mirabolantes sobre mundos fantásticos que habitávamos enquanto brincávamos e contos doces que embalavam nosso sono.
Mas também somos histórias que protagonizamos na vida real, o primeiro dia de escola ou no trabalho, um dia na praia, uma decepção amorosa (porque nem todas as histórias são felizes, é a vida), uma aprovação em um exame, uma viagem, o nascimento de um filho, a morte de alguém querido, um abraço de boas-vindas, um beijo de despedida.
E, ainda, somos as histórias que não vivemos, por opção ou por falta dela, e que cede lugar a outras histórias.
Quantas histórias cabem em nós, naquilo que fazemos, em quem somos? Espero que muitas, e que tenhamos sempre uma forma de nos relacionar com elas. Para mim, as manualidades muitas vezes assumem este papel, o papel de ponte entre quem eu sou e as memórias de muitas histórias, minhas e de pessoas e coisas que passam pela minha vida.
Eu gosto de pensar que cada fio que teço é um também um fio invisível que me associam às histórias de cada peça, de quem a desenhou e de quem a vai usar, porque é assim que me sinto quando olho para um peça feita pela minha avó. Aquele tecido nos conecta pela emoção, movem-me em direção a memórias doces, que alegram a minha existência; por vezes, estes tecidos trazem saudades, deixadas pelo vazio da sua ausência. Mas ele está ali a lembrar-me das minhas histórias, de todas as histórias que cabem em mim.
E todas as histórias, boas e más, seguem encantando a minha vida. E que seja assim sempre pois:
“A vida é demasiado preciosa para ser esbanjada em um mundo desencantado”
Mia Couto